quinta-feira, outubro 18

Pena não terem abortado o projecto
KNOCKED UP, de Judd Apatow



Por virtude de datas de estreia que aos adeptos aparentam ser completamente aleatórias, temos esta semana nas salas portuguesas KNOCKED UP, o filme que Judd Apatow fez antes de SUPERBAD, tendo este último já estreado por aqui há duas semanas.

Depois de flirtar com o esquema da buddy comedy em 40 YEAR OLD VIRGIN, e antes de se servir do género da comédia de liceu em SUPERBAD, Judd Apatow dá-nos aqui a sua visão do que deveriam ser as romcom - comédias românticas. Em inglês, "knocked up" é um calão grosseiro para o evento da gravidez, e assim desde logo ficamos a saber que esta não será talvez uma comédia romântica nojentamente sacarosa. Seth Rogen é um drunfado tosco e preguiçoso que passa o dia a fumar erva, a dedicar-se a videojogos, e eventualmente a trabalhar com os seus colegas de quarto num projecto multimédia quiçá proveitoso que lhes acomoda o gosto pela nudez de celebridades. Katherine Heigl (que depois de fazer séries de TV do mais enfadonho parece ter ganhado um sentido de humor) é uma assistente subalterna num programa de televisão. Embora sofisticada e atraente, ela é demasiado ambiciosa para perder tempo a procurar relacionamentos afectivos, dedicando-se em vez disso ao trabalho.

Uma certa noite, Seth e Katherine, ambos embriagados, encontram-se numa discoteca. Improvavelmente, acabam os dois na cama. De manhã, Katherine Heigl rapidamente se apercebe do seu erro, e desfaz-se de Seth Rogen o mais depressa possível. Seria aqui o fim da estória, não fosse o milagre da vida/fecundação humana. Agora Rogen e Heigl terão de se esforçar por conseguirem um relacionamento saudável, por fazerem um casal feliz.


Às vezes ser pai é duro, outras vezes é apenas ridículo


E este é o sintoma da principal falha de KNOCKED UP. Mesmo sendo uma comédia, o filme está demasiado encerrado na sua direcção para fazer cedências a outros pontos de vista, ou mesmo cedências à lógica e ao senso comum. As personagens de Heigl e de Rogen nunca teriam um futuro como um casal, mas no entanto nenhuma outra hipótese é considerada quando é descoberta a gravidez. Ninguem menciona cedência da criança para adopção, e as duas únicas personagens que mencionaram (nem sequer mencionaram: deram a entender) a opção do aborto foram duas personagens já antes caracterizadas pelo filme como mesquinhas. Para além desta tacanhez moral, há toda uma série de situações improváveis que nem são explicadas, sendo apenas criadas a pensar na punchline: o personagem de Seth Rogen não tem nenhum vencimento mensal, e apesar de fumar droga, beber a toda a hora, e partilhar uma casa com piscina, de alguma maneira consegue sobreviver durante meio ano com menos de 900 dólares.

Judd Apatow parece crer que porque está a fazer comédia todo o género de atalho é justo. Engana-se redondamente. As suas comédias não são fantasistas, não são escapistas. Lidam com pessoas normais e problemas normais, procuram que a audiência se encontre nos personagens. Esse valor é completamente perdido quando o produto não se digna a obedecer às regras do mundo em que vivemos. Este problema toma dimensões muito maiores quando de repente as motivações de uma personagem mudam radicalmente, aparentmente apenas de maneira a criar novos conflitos e progressão.

No entanto, as piadas são boas. As prestações dos actores principais têm um bom nível, e até há alguns papéis secundários memoráveis (Alan Tudyk é aqui uma folha no vento). Vale a pena ver o filme... quando chegar à TV.


Vão vê-lo com: Pessoas alérgicas ao preservativo e imunes a product placement

1 comentário:

marta disse...

não sei porque, a maioria das comédias, hoje em dia, não me inspira a pagar um bilhete de cinema...

desilusão por desilusão, prefiro gastar em coisas que, há partida, sei que realmente valem a pena ser vistas em cinema....


comédias deixo para o DVD....

Faço mal??