quinta-feira, dezembro 27

#3 - ZODIAC, de David Fincher
Eco de uma noite de verão


IMDb

À partida, e pelo menos no papel, ZODIAC não poderia escapar às comparações com outro filme de David Fincher, o thriller SE7EN. Mas desde o princípio do filme é claro que qualquer comparação será fútil. São duas obras que aparentam ter terreno comum, mas que acabam por se revelar produtos completamente diferentes. A diferença principal é que ZODIAC é baseado em factos e pessoas reais. Este filme é uma adaptação dos dois livros de Robert Graysmith sobre o Assassino do Zodíaco, que durante os anos setenta aterrorizou a região de São Francisco. Para além de cinco vítimas mortais, o Zodíaco tornou-se célebre por enviar mensagens e cifras aos jornais e às autoridades, detalhando as suas acções e anunciando as suas intenções futuras.

No filme acompanhamos o personagem do próprio Robert Graysmith, cartoonista do “San Francisco Chronicle” na altura dos assassinatos. Quando a primeira carta chega à redacção do jornal, Graysmith começa a sua espiral de obsessão com a identidade do assassino. Ao longo do filme irá contar com a ajuda de outros que também foram atraídos para o caso: o cronista criminal do “Chronicle”, desempenhado por um Robert Downey Jr. delicioso e o inspector da polícia Dave Toschi, com Mark Ruffalo a trazer credibilidade e um lado humano a uma figura que seria demasiado fantástica não fosse o facto de existir mesmo. De facto, as prestações secundárias chegam a ser tão boas que por vezes destacam uma certa falta de carisma de Jake Gyllenhall, que tem o papel principal.

ZODIAC parece à primeira vista uma mudança radical no estilo de David Fincher, mas passados alguns minutos logo vemos que se trata de uma ilusão: o virtuosismo e estilo continuam lá, só que desta vez apostados em tornar a história tão realista e fiel quanto possível. Esta subtileza funciona na perfeição, não havendo paternalismos nem esfregando a cara do espectador no facto da narrativa ter lugar algumas décadas no passado. Quem tiver atenção ao detalhe encontra os sinais de período lá: nas roupas, nos carros, na música. Mas não esperem encontrar cortes de cabelo ridículos ou uma sucessão de "Greatest Hits of the 70s".

No entanto, este é um filme que inevitavelmente vai trazer alguma frustração ao seu público. Depois de um primeiro acto recheado de desenvolvimentos e com cenas de assassínio genuinamente originais e electrizantes (filmadas de uma maneira crua e estóica, o que as torna ainda mais horríveis), somos levados numa investigação que vive apenas de dossiers e ficheiros. Não será um espectáculo, mas foi assim que aconteceu.

Momento definitivo: O tracking do ponto de vista de um pássaro a um táxi com um ocupante especial, enquanto este conduz pela cidade.

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