quinta-feira, janeiro 31

3:10 TO YUMA, de James Mangold
Pouca terra, pouco céu


IMDb | O Comboio das 3 e 10

Não é fácil ganhar: ou um remake traz algo de novo, e sofre a sempre injusta comparação com o filme que veio antes, ou então segue o mesmo caminho do predecessor e é acusado de não trazer nada de novo. Mesmo que haja um bom equilíbrio entre a inovação e o repensamento, vai sempre estar lá o dedo que acusa de falta de originalidade.
Há cinquenta anos atrás (!) 3:10 TO YUMA foi um western, em certa medida derivado do brilhante HIGH NOON (1952), que não tinha nada de particularmente notável mas que tinha uma trama simples e directa, e um personagem muito bem conseguido no papel interpretado por Glenn Ford.

Esta revisão de James Mangold traz-nos um filme com mais caracterizações (para o melhor e para o pior) e com um ritmo muito mais acelerado. Christian Bale é Dan Evans, um agricultor perto da ruína que está à espera de um milagre. O seu problema não é o de acreditar ou não no milagre, mas o de conseguir dinheiro para manter o seu rancho até este chegar. Quando uma milícia local consegue capturar o célebre bandido Ben Wade (Russell Crowe, com um digno esforço que não chega a alcançar o élan de Glenn Ford), Evans vê aqui uma oportunidade não só para conseguir o dinheiro que precisa, como para recuperar o respeito do seu filho mais velho, que tal como o resto da cidade o considera um falhado.

O primeiro acto de 3:10 TO YUMA desvia-se muito pouco do original, excepto no que toca aos bandidos: Ben Wade é agora atormentado por uma espécie de maldição cristã que não faz nenhum tipo de sentido (e felizmente é abandonada antes do fim do filme), e o seu braço direito, interpretado com regozijo bidimensional por Ben Foster, é um seu fã submisso que representa o lado negro que Wade no fundo deseja não ter.

A principal diferença entre este remake e o original é encapsulada na sequência do primeiro assalto à caleche. Onde antes apenas testemunhávamos um assalto cordial onde a violência proveio do descuido, aqui somos sujeitos a uma cena de acção exagerada e frenética que pouco tem a ver com o propósito intimista do filme. Este tipo de adrenalinterlúdios vão surgindo ao longo da duração do filme, soando mais a intromissões do que a marcadores de ritmo.

Mas, até aqui, nenhum cirme excepcional. De facto, este remake era bastante tolerável e conseguia manter a temática do original apesar da acção acrescida que apesar de desligada dos personagens é benvinda e divertida. O problema principal deste 3:10 TO YUMA é mesmo o final. Sem querer revelar, nem comparar com o original (também o final era o seu ponto algo fraco), Mangold optou por se distanciar do final de 1957 e adicionar uma conclusão inesperada e totalmente injustificável.

3:10 TO YUMA será o menos bem conseguido da recente fornada de projectos de revivalismo do western, mas continua a ser um filme fácil de desfrutar.

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