domingo, novembro 4

Sozinha no topo
ELIZABETH: THE GOLDEN AGE, de Shekhar Kapur



Já sabíamos que Shekhar Kapur era fascinado com a personagem da raínha Elizabeth I de Inglaterra, e também já sabíamos que era fascinado com Cate Blanchett. Agora sabemos que se devia controlar.

THE GOLDEN AGE lida com o período de conflito entre Inglaterra e Espanha (que culminou na derrota da Armada Invencível) mas de uma forma muito superficial. A trama acaba por orbitar o triângulo amoroso de Elizabeth, de Sir Walter Raleigh, e da aia mais próxima de Elizabeth, uma outra Elizabeth que assim se vê obrigada a ser chamada de "Bess".

O que define este filme é o desprezo com que os personagens secundários são tratados pelo realizador. E aqui, todos são secundários menos o personagem de Cate Blanchett. Mesmo Clive Owen tem um papel com zero profundidade, sendo a audiência levada a inferir as qualidades deste através do fascínio que Elizabeth tem por ele. Do molho de figuras bidimensionais que servem de fundo a Cate Blanchett ainda se destaca de uma maneira residual Geoffrey Rush, com o papel de Walsingham, o velho conselheiro da raínha. Os sacrifícios que a sua personagem tem de fazer devido ao seu trabalho são meramente referenciados, mas Rush consegue a melhor transmissão possível deste conflito.

Já a própria Elizabeth tem uma caracterização óptima, mas não suficiente para carregar o filme aos ombros. Cate Blanchett terá melhor hipóteses para o merecido óscar com I'M NOT THERE.

ELIZABETH: THE GOLDEN AGE não é de todo uma perda de tempo. O aspecto do filme é trabalhado, e sem ser demasiado barrocos os cenários assim como o guarda-roupa servem a sua função. Não há propriamente um desenlace para o filme, apenas uma remoção cirúrgica gradual de todos os conflitos. Os espanhóis, a esses é dada uma valente lição: metam-se com alguém do vosso tamanho (tipo, os vizinhos a Oeste)

No fim, o filme valeu a pena também porque passou a primeira trailer completa para CONTROL, o biopic de Anton Corbijn sobre Ian Curtis. Arrepiou e aumentou consideravelmente o interesse.


Vão vê-lo com: o Nuno da Câmara Pereira

6 comentários:

Tertúlia disse...

Exactamente assim!
Não poderia dizê-lo melhor.

Jocas,
Dinora

Tertúlia disse...

Vê-se quem tem o dom da palavra...

Luis Pitta (r) disse...

Filme a nao perder. Obrigado pela excelente critica.

Estava a ver este site/blog:
http://www.cinealex.bravehost.com/cinema.html
mas na realidade nao chega aos calcanhares do teu 4º escuro :-)

Patomanso disse...

Haha, adoro o narcisismo desse site.

Obrigado a ambos ;)

marta disse...

fui ver o filme, e tenho que admitir que a dada altura do filme uma pessoa começa a enjoar de cate, assim lá para o meio....


No entanto, dê-se o crédito a representação...

Patomanso disse...

Ela está muito bem, de facto. Mas não chega para carregar o filme sozinha...