sábado, janeiro 26

DAQUI P'RÁ FRENTE, de Catarina Ruivo
A solidão faz a força?


IMDb

DAQUI P'RÁ FRENTE é a história de Dora e António, respectivamente uma esteticista que passa as noites em reuniões de um pequeno partido de esquerda (EsqUerda?) e um polícia da capital a mãos com uma crise meia idade. Dora descarrega a sua criatividade e frustrações com o emprego na sua actividade partidária, desafiando a todo o momento a liderança de um sub-utlizado Luís Miguel Cintra. António está à espera de algo novo e melhor, mas que ainda não sabe o que é, e parece culpar a esposa por essa insatisfação, já que ele pouco a vê.

O retrato da capital segundo estes dois personagens está bem conseguido, sendo um marasmo cansado e usado de rotina para Dora e uma escuridão impessoal para António. Adelaide de Sousa tem mais sucesso a apresentar-nos o seu personagem, visto que este se traduz mais em acções do que um António perdido no espaço e no tempo.

O problema com DAQUI P'RÁ FRENTE é mesmo o de Catarina Ruivo concentrar em si a escrita do argumento, a realização e a montagem. A colaboração e diálogo entre estes três criativos fulcrais do acto cinematográfico é célebre pelos prejuízos que costuma trazer aos filmes, nomeadamente quando acontece cada um dos destes actores estar a levar o projecto numa direcção diferente. O que não é tão discutido é que esta colaboração também é o que torna o cinema uma forma de arte tão comunicativa, uma meio de comunicação tão artístico. Se houver mais do que um actor entre estes três departamentos, vão estar a compensar as fraquezas uns dos outros, ou a potenciar o ponto forte de cada um.

Ao ser escrito, realizado, e montado pela mesma pessoa, este filme ganha contornos de piada privada. As motivações dos personagens principais estão-nos ocultas, talvez por serem demasiado óbvias para a realizadora/argumentista/editora. Ou talvez porque a argumentista/editora/realizadora se viu obrigada a fazer escolhas sem a constante assistência de alguém com um ponto de vista diferente.

O que acaba por acontecer é que com DAQUI P'RÁ FRENTE nunca nos sentimos mais do que audiência, nunca somos recompensados como esperamos pela nossa abstracção ou pela nossa atenção ao detalhe.

De resto, o filme merecia uma melhor e mais ponderada banda sonora. Mais destaque para algumas das personagens secundárias. E, sem dúvida, um teste de tensão criativa.

1 comentário:

Maria José disse...

Alguém sabe onde posso arranjar o filme? nem para comprar encontro :S