segunda-feira, dezembro 24

A minha mão direita é de 9mm
SHOOT'EM UP, de Michael Davis


IMDb

Entrei para este filme com bastante desconfiança e até algum desagrado. Afinal, o exagero em filmes de acção sempre foi uma coisa enternecedora por ser genuína. Por outro lado, a hiper-realidade e a hipérbole já tinham sido exploradas em CRANK. PArecia-me que SHOOT'EM UP vinha contar uma piada que já se conhecia.

Mas a verdade é que o filme de Michael Davis está num nível bem superior ao de CRANK. CRANK era uma série de gags com uma ligação ténue, um exercício num conceito que pouco se importava com estruturas ou regras. Nada de mal nisso. Mas é admirável como Michael Davis conseguiu construir um filme semelhante, que existe inteiramente para o regozijo das sinapses neurais, conseguindo no entanto manter a experiência dentro de formatos lógicos (se bem que lógicamente esticados).

Clive Owen é Bugs Bunny, e Paul Giamatti é Elmer Fudd. Isso é claro desde o primeiro shot, e literalizado ainda no primeiro terço do filme pelos próprios. Quando de repente (o contexto do seu personagem só nos começa a ser dados mais adiante) Owen se vê entre os capangas de Giamatti e o bebé que eles querem eliminar, começou o jogo entre o caçador trapalhão e a presa astuta.

As sequências de stunts de SHOOT'EM UP são brilhantes. São mesmo a razão de ser do filme. Nas palavras do próprio Davis, são Looney Tunes na vida real. O personagem de Owen é um atirador exímio, e também dotado de grande criatividade. Disparar armas à distância com cordéis ou disparar balas sem sequer utilizar uma arma de fogo são apenas alguns dos meios com que "Smith" se desfaz dos (propositadamente) indiferenciáveis capangas.

A maneira como o background das personagens só nos é dado a conhecer em pequenas doses e ao longo de todo o filme é refrescante, embora funcione melhor para uns do que outros. Chega mesmo a incomodar como a liberdade criativa aplicada às acrobacias de fogo acaba por também contaminar a verosimilidade da estória.

Mas, uma vez mais, SHOOT'EM UP não é um filme desses. É o seu próprio filme.

PS - Clive Owen começa a ficar mais confortável com a tarefa de parteiro. Traz à luz um bebé neste filme com mais à-vontade do que em CHILDREN OF MEN.

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