domingo, setembro 23

O Esquartejamento de GRINDHOUSE Parte 1
PLANET TERROR, de Robert Rodriguez



Numa certa reunião, num escritório de luxo algures em Los Angeles: "Queremos fazer um filme. Aliás, dois filmes. Mas só queremos que se venda um bilhete por ambos. Vão ser restritos a audiências com mais de 18 anos, vão ter muita nojice e muita violência, e vamos esforçar-nos que fique com um aspecto rasca. Aliás, vamos mesmo fazer de conta que a fita está estragada e coisas giras desse género."

Este não é de certeza o tipo de premissa que os irmãos Weinstein estariam habituados a ouvir, e certamente que não é o tipo de projecto no qual eles investiriam milhões de dólares. Mas a diferença é que quem estava a propôr a ideia eram Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, as galinhas de ouro da dupla de produtores americanos.
Foi assim que nasceu GRINDHOUSE, uma double feature que pretendia homenagear os filmes exploitation que numa altura teriam abrigo no Sá da Bandeira. A acompanhar DEATH PROOF e PLANET TERROR vieram ainda quatro trailers falsas com o mesmo âmbito.

Porém, GRINDHOUSE não fez diheiro nenhum nos EUA. As razões são inúmeras: fraca campanha publicitária, pouco contexto, conceito demasiado niche, material demasiado ofensivo, etc. Isto levou a que os Weinstein se zangassem com as suas galinhas de ouro e simplesmente abortassem planos de distribuição noutros mercados.
Valeu-nos o cut internacional que Tarantino apresentou em Cannes, já que por também estrear no Festival de Curtas de Vila do Conde vamos receber ambos os filmes Grindhouse no nosso país. Não vamos ter direito à experiência da double feature, e trailers falsas nem cheirá-las, mas podia ser pior.


Um dos sintomas de exposição ao gás tóxico é o de delírio na compra de casacos


PLANET TERROR

Se DEATH PROOF é uma carta de amor a filmes exploitation, então PLANET TERROR é um homem das cavernas a rebentar o crânio da exploitation com uma moca e a tomá-la como noiva. Rodriguez libertou aqui todos os seus instintos de gore e de B moviemaking, e juntou-os numa embalagem que morde e que cospe. É um testemunho da selvajaria deste filme o facto de haver cameos de pessoas tão distintas como Fergie e Tom Savini.

Na pequena cidade no Texas, uma troca entre um grupo de militares e um cientista corre mal, resultando na libertação de um perigoso gás. Este gás vai tornando a população em criaturas deformadas e sedentas de carne humana (não usemos aquela palavra que começa por Z). À medida que a epidemia cresce, o decrescente número de sobreviventes aglomera-se num grupo que se apercebe que tomar a base militar da zona é a sua última hipótese de sobrevivência.

PLANET TERROR tem uma mão mais pesada com as simulações de fita estragada do que DEATH PROOF. E este é apenas mais um sintoma das diferenças entre as duas apresentações. PLANET TERROR é mesmo muito liberal com a violência, mas tanto esse aspecto como o humor negro com que a violência é encarada tornam-na mais do que tolerável - tornam-na gira. Quando chega a altura de Rose McGowan chacinar soldados mutantes com uma carabina M4A1 em vez de uma perna, é só um arco natural.

É uma escolha óbvia que PLANET TERROR tenha sido a abertura para GRINDHOUSE. Depois de hora e meia de excesso e grand guignol, a audiência já saciou as suas expectativas, está preparada para digerir a próxima metade da experiência com mais método. Está pronta para DEATH PROOF.


Vão vê-lo com: Fãs dos Black Eyed Peas, o cunhado que costumava arrancar as asas a moscas


Ler Parte 2

3 comentários:

marta disse...

recomenda-se a pessoas com insónias???? :)

Patomanso disse...

Pelo menos o filme ajudaria a dar cor às insónias :p

Rui Baptista disse...

Por acaso até gostei muito do filme. Muito mais do que o "Death Proof". Inclusivé das meninas...