quarta-feira, dezembro 26

#4 - DON'T COME KNOCKING, de Wim Wenders
Nunca olhar para trás


IMDb

Antes sequer de conhecermos o personagem de Sam Shepard, sabemos que ele está a fugir. Sabemos que é um velho actor de westerns que um dia decide fugir no seu cavalo a meio da rodagem de um filme no meio do deserto. Embora sem agenda, esta fuga vai acabar por levá-lo a uma chamada à responsabilidade, a uma prestação de contas a todas as "fugas" do seu passado.

Co-escrito por Wenders e Shepard, DON'T COME KNOCKING é um filme errático, aberto, simbólico. Dá-nos uma imagem pérfida do personagem principal, apenas para pouco mais tarde nos perguntar se ele estará de facto no caminho para a redenção.

O personagem de Shepard é Howard Spence, uma estrela de westerns que já vai adiantado em anos, e todos eles um exercício de indulgência e auto-destruição. Afogado num mar de oportunidades, preferiu rebolar sem medo nem culpa, um caminho que apenas leva à valeta. Ao saber da possível existência de um filho seu numa terrinha onde há 30 anos tinha rodado um filme, Howard decide, sem saber porquê, procurá-lo.

Visualmente, DON'T COME KNOCKING é vívido, com cores primárias e especial destaque às da bandeira americana. Em quase todos os shots é possível encontrar no décor um jogo entre elementos do passado e elementos do presente, neste que é um conto de reacções tardias, de ecos distantes.

Em papéis secundários temos valores como Jessica Lange, Tim Roth e Eva Marie Saint. Um luxo necessário quando se trata da descoberta da humildade no personagem principal.

A América de Wim Wenders continua em exibição. E nós ganhamos um grande filme.


Momento definitivo: Com a câmara a orbitar Sam Shepard sentado num sofá no meio da estrada, elementos do cenário e pequenos sons permitem-nos adivinhar a tão-adiada introspecção e reflexão do personagem sobre a sua própria vida.

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