quarta-feira, outubro 3

Capacete Desprotegido
O CAPACETE DOURADO, de Jorge Cramez



Quando adultos procuram retratar jovens, e jovens a interagir entre si, há dois erros frequentes: dar-lhes vozes e comportamentos adultos ou então fazer uma caricatura dos traços do jovem de hoje, exacerbando-lhe os maneirismos até ao ridículo. Em O CAPACETE DOURADO, felizmente, não vamos encontrar nenhum destes erros.

O CAPACETE DOURADO é a primeira longa metragem do realizador Jorge Cramez, que até aqui tinha sido assistente de realização em filmes como ADÃO E EVA e TOMAI LÁ DO O'NEILL. CAPACETE é a ficcionalização de um caso real, a tentativa de duplo suicídio de um casal de adolescentes em Guimarães, em 1999. No entanto esta base servirá apenas como pista para a interpretação do filme. Jorge Cramez dá-nos noventa minutos de um olhar surpreendentemente sóbrio sobre a juventude em meios suburbanos, e sobre o eterno dilema da juventude em qualquer sítio: o hedonismo e sede de vida que a todo o momento são contidos e oprimidos por uma sociedade de adultos.

O CAPACETE DOURADO consegue manter um visual interessante do princípio ao fim, com ideias que vão mais longe do que o livro de técnicas em que a maior parte do cinema português de massas se parece basear. Apesar deste espírito inventivo se manter constante, há alturas onde este se enamora consigo próprio, e derrapa. Estes são (felizmente, poucos) momentos de gosto duvidoso, quiçá de amadorismo. Um entediante ballet de motocicletas ao som do Danúbio Azul de Strauss (por favor!) não tem lugar ao lado de cenas de cortar a respiração como o de Maragarida, frágil e extasiada, a encontrar o seu lugar numa massa de corpos que dançam ao som de Echo & the Bunnymen.


Horas depois da festa, Jota ainda tinha a sensação de estar a ser seguido por uma equipa de filmagem


Este filme é de facto uma estreia impressionante, uma óptima promessa de Jorge Cramez. Mas o problema é que não passa disso. O CAPACETE DOURADO faz a bizarra escolha de não ter um arco, nem para os personagens nem para a trama. Não há desenvolvimento, apenas uma sucessão de eventos, e isto faz do filme não tanto uma estória como o faz um exercício. Salvam essa situação Eduardo Frazão e Ana Moreira, que com o pouco material que lhes é dado trazem à sua relação bastante credibilidade.

Depois do final abrupto, a audiência vai sentir-se como se alguém lhes tivesse levado alguma coisa. Como se algo lhes tivesse sido escondido. Mas mesmo asism vai sair da sala satisfeita. Porque viu um filme portugyuês que não se arrastou, porque viu um filme português que não parecia filmado por máquinas.

Recomenda-se, e entretanto espera-se melhor do próximo filme de Jorge Cramez.


Vão vê-lo com: Pessoal que não costuma ver cinema português, aquele amigo que não consegue ler um livro até ao fim

1 comentário:

Unknown disse...

Ola!gostava de saber como posso ver o filme ou como posso compra-lo, tenho procurado e nao encontro,estou curioso...obrigado