sábado, janeiro 26

CLOVERFIELD, de Matt Reeves
A tradução de kaiju


IMDb | Nome de Código: Cloverfield

E no princípio, houve o marketing viral. Depois da estreia da teaser nos Estados Unidos para o então "01-18-08" à frente de TRANSFORMERS, houve uma profusão de sites-puzzle que davam a entender que nos iam esclarecer do que se tratava este "projecto desconhecido de JJ Abrams" se resolvessemos uma série de enigmas que pareciam não levar a lado nenhum. Agora que o filme já estreou, sabe-se que nem um terço daqueles sites estava de facto associado ao filme. Azar para quem perdeu tempo naquilo.

E depois de se falar em Lovecraft, e de se falar em Godzilla, agora sabemos de que trata Cloverfield: é a gravação feita por alguns cidadãos de New York durante o ataque à cidade de um monstro gigante. O filme abre com um breve interface que nos informa que o que quer que se passou já parece resolvido, que o que vamos ver é uma gravação oportuna feita por civis, e que tudo irá acabar no Central Park.

Daí saltamos logo para a gravação no cartão de memória da mais milagrosa câmara de filmar de sempre (falha de bateria? memória insuficiente? danos físicos? tudo coisas do passado). O que a gravação nos mostra é um grupo de jovens que querem registar a festa de despedida de Rob, que vai para o Japão para o seu emprego de sonho. Durante cerca de meia-hora é-nos desenhado um cenário de personagens principais e secundários e das relações que estes têm entre si, de uma forma mais ou menos disfarçada.

Por mais prevenidos que estivéssemos, é uma surpresa quando o ataque começa, e o filme entra num ritmo constante daí até ao final: vamos seguir um pequeno grupo dos jovens da festa no seu caminho através de Manhattan (e com alguns encontros com as criaturas) até ao apartamento da amantizada de Rob.

Uma vez mais será necessário ignorar a falácia de um dos jovens escolher filmar todo o seu progresso (técnicamente esta personagem é o realizador do filme!), mesmo quando se encontram entre uma criatura gigante e o exército. Mas, para dizer a verdade, não é necessária tanta suspensão de descrença como quando vemos, por exemplo, um filme Godzilla (a porcaria Hollywood de 1997 não conta).

CLOVERFIELD é um excelente thriller, é preciso que se diga. Vendo para além dos truques, estamos na presença de um filme kaiju simulado quase até à perfeição, e que se atreve a quase não mostrar o monstro em questão (não se preocupem, temos um ou dois olhares bem longos ao seu desenho). Tal como em BLAIR WITCH PROJECT, de maneira a criar uma atmosfera de medo à volta de uma ameaça quase invisível, o filme terá de se apoiar nos actores e no desenho de som. Tal como em BLAIR WITCH PROJECT, o primeiro é insatisfatório mas o segundo é brilhante.

Em suma, CLOVERFIELD recomenda-se. Mas a verdade é que não vai perder muito com a transferência para o "cinema em casa". Por último uma pequena palavra para as inevitáveis comparações com os ataques de 11 de Setembro: treta. O filme de facto vai buscar imagens a esse evento para melhor transmitir a ideia de uma catástrofe completamente inesperada, mas não tenta sequer ter algo a dizer sobre os ataques terroristas. O facto da ameaça nunca ter sido erradicada seria um bom argumento a favor de uma teoria da analogia... mas a verdade é que soa mais ao conceito de venda do filme do que outra coisa.

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