terça-feira, janeiro 22

CASSANDRA'S DREAM, de Woody Allen
Crime e Castigo remascado


IMDb | O Sonho de Cassandra

Depois do desastre crítico que foi Scoop, Woody Allen teve a má ideia de fazer marcha atrás para MATCHPOINT com CASSANDRA'S DREAM. Em vez de estacionar numa zona de conforto onde antes obteve grande aprovação do público e da crítica, a verdade é que falhou a garagem e conduziu por cima do jardim de flores.

Ok, se calhar abandono esta metáfora.

CASSANDRA'S DREAM conta-nos a história de dois irmãos que, ambos numa situação em que desesperadamente precisam de dinheiro, recorrem ao seu tio rico. Este aceita ajudá-los, mas com a condição de o ajudarem a ele: vão ter que matar alguém pelo dinheiro. Como as trailers já nos tinham revelado, acabam mesmo por cometer o crime, e o filme passa a debruçar-se sobre os problemas de consciência de ambos.

O primeiro acto do filme está muito bem conseguido, e sem material de grande densidade os actores principais conseguem construir um elaborado quadro de relações. Nunca duvidamos da fraternidade dos personagens de Ewan McGregor e Colin Farrell, conseguimos sentir aquele tipo de familiaridade entre os actores que vem da convivência de toda uma vida. Esta dinâmica é testada com o dilema que e apresentado aos irmãos, o de matar ou não matar, e é bem sucedida.

Esta fase é a que mais lembra a inspiração fundamental de MATCHPOINT, o romance Crime e Castigo de Fiódor Dostoievsky. O personagem de McGregor, Ian, é a força que tenta convencer Terry (Farrell) a seguir com o plano para obter o dinheiro, embora seja Terry que esteja a atravessar mais dificuldades. Um jogador inveterado, Terry deixa-se levar pelas suas circunstâncias, lamentando as suas escolhas demasiado tarde. Já o ambicioso Ian tem o hábito de assumir papéis que não tem, de se dar a ares que não correspondem à sua situação na vida. Por isso, para ele é mais fácil não só agrarrar a oportunidade como depois esquecer o que fizeram.

O sufoco de MATCHPOINT não é tão brilhantemente reproduzido aqui na derradeira fase da chamada à responsabilidade dos personagens, e assim ficamos com um filme assimétrico que é mais eficaz na primeira metade. Ao nível do guião então, somos presenteados com um final absolutamente preguiçoso e auto-danoso.

No fim, o pior insulto que se pode atiorar a CASSANDRA'S DREAM é que é competente naquilo a que se propõe. Pena que se tenha proposto a tão pouco, e tão recentemente depois da vividez de MATCHPOINT.

3 comentários:

Helena Bebiano disse...

Totalmente lineal e sem grandes emoções. Talvez seja esse o segredo de Woody Allen... As vezes ele nos surpreendi, as vezes não..
Achei ótimas as tomas, mas sem grande criatividade. Nada foi fora do comum. Não gostei das cores, é um filme muito opaco, aunque a fotografia em geral é boa...
O tipo de música é o mesmo de sempre. E concordo plenamente em questão a que o final foi bastante preguiçoso.

Helena Bebiano disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Helena Bebiano disse...

Outra coisa... Sobre MatchPoint (um dos meus filmes favoritos), posso estar errada, mas pelo que sei, o roteiro não é dele.. Somente a direção (excelentíssima)..